20/01/2017

“DAI-LHES VÓS DE COMER” - Mc 6.37

Pb. Ferdinando Teodoro Soares


Pb. Ferdinando Teodoro Soares

A fome é um sintoma de requerimento energético de um indivíduo. É um sinal de que o nosso corpo está necessitando de alimentos para suprir as necessidades vitais. É um termo comumente usado para referir a casos de má-nutrição ou privação de comida, alterando a quantidade e distribuição dos compartimentos corporais, clinicamente chamado de desnutrição.

A desnutrição pode ser tanto primária quanto secundária. A primária compreende a inadequação da ingestão alimentar, enquanto a secundária envolve a primária, associada a doenças, alterações nas necessidades, metabolismo e absorção de nutrientes. Essa subnutrição energético-protéica pode ser aguda (Kwashiorkor) ou crônica (Marasmo).

Diante desse assunto, observa-se, dentro do campo missionário, a situação de crianças, jovens e adultos vivendo esse quadro. A imagem de uma criança raquítica, pequena, pele e osso que, de imediato, vem à memória, é um triste e real estado de marasmo.

O marasmo é o estágio final do processo de caquexia, em que quase todo o estoque de gordura se esgota. Dura meses ou anos e o exame clínico demonstra uma aparência de definhamento, com peso menor que 80% de adequação. Se houve expressão de espanto ou pensamento assustador, você está compreendendo onde desejo chegar.

Nos noticiários há relatos frequentes sobre a grande fome em países pobres, imagens dramáticas que aguçam nosso emocional, campanhas de solidariedade são realizadas com o objetivo de amenizar a situação, muitos choram por pena, outros se conformam dizendo que a culpa é do próprio ser humano, outros ousam em dizer que isso é necessário acontecer para que se cumpram as profecias bíblicas, mas poucos se disponibilizam em agir.

Amar, se emocionar, compadecer-se ou até mesmo se irar diante disso é algo comum, porém de nada vale se não houver ação. “Se sabeis essas coisas, bem-aventurados sois se as fizerdes” (Jo 13.17). Toda a caridade em palavras não trás benefício a ninguém, nem mesmo ao que a pronuncia, pois estará agindo de hipocrisia. A ordenança em “dar-lhes de comer” não requer discurso emocional.

Muitos se limitam a pensar que cumprir o Ide do Senhor está associado em apenas pregar a Palavra. Pessoas vão aos mendigos, andarilhos e moradores de rua e tentam fazê-los compreender a amor de Deus Pai, mas o fazem de forma errônea. A atitude de Jesus em Marcos 6.30-44 demonstra isso. Poderia Ele dispensar o povo para que procurasse alimento, mas, em sua suprema sabedoria, sabia que haveria impacto maior demonstrando que Deus também se preocupa com nosso corpo, morada do Espírito Santo.

Angelis e Tirapegui relataram em seu amplo estudo contido no livro Fisiologia da Nutrição Humana que, quando a excreção é maior que a ingestão, o organismo começa a trabalhar com as reservas, levando a deficiências nutricionais, imunológicas e psicológicas, além do fato de dificultar a capacidade de aprendizagem e compreensão deste indivíduo. Isto levanta um questionamento compreensível: Como alcançarei resultado diante da Palavra ministrada quando, clinicamente falando, todo um corpo luta para não ir a óbito?

Deus não precisa de heróis que possam erradicar a fome de todo o mundo, mas sim de humanos que ajam, declarando o amor às almas e aos corpos no qual elas pertencem.

- “Como Deus me ama se Ele me deixa aqui passando fome?” – “Deus te ama tanto que me despertou para que trouxesse comida pra você”. Será que agindo assim as possibilidades de falar do amor do Senhor aumentaria?

“A quem enviarei e quem há de ir por nós? Eis me aqui. Envia-me a mim” Então “Dai-lhes vós de comer”.

Ferdinando Teodoro Soares é Bacharel em Nutrição. Presbítero da Assembleia de Deus – Ministério de Cel. Fabriciano e Ipatinga – Minas Gerais e Missionário enviado pela Missão Boas Novas, atuando no povoado de Baixadão, em Diamantina/MG