19/12/2016

FILHO DE PASTOR! PRIVILÉGIO OU FARDO?

Profª Gislaine Mendonça Pereira Gonçalves


Gislaine Mendonça Pereira Gonçalves

“Você é filho de pastor! Tem que ser exemplo!” - Essa foi a frase que um obreiro de uma determinada igreja pronunciou segurando firmemente no braço de um de meus filhos, quando acompanhado de outras crianças de sua mesma faixa etária, estavam do lado de fora do templo, na hora do culto.

Não questiono a correção, pois é evidente que meu filho, nesta ocasião estava errado. Todavia a pergunta é: por que somente ele, por ser filho de pastor, é que teria que ser exemplo?
Baseado em nossa própria experiência, como família pastoral, quero analisar sobre a cobrança excessiva para ser “vitrine doutrinária” que além da família, em especial os filhos de pastores, são obrigados a ser!

São vários os questionamentos que vemos, tais como: Por que é tão difícil filhos de pastores serem modelos? Há alguma opressão espiritual que os persegue ou é apenas a maturidade que ainda não chegou? Quem não conhece um filho de pastor que, de santo não tem nada? Ou aquele que em vez de ajudar no ministério dos pais, mais envergonha do que ajuda?
A palavra de Deus é bem clara em Ezequiel 28.20: “A alma que pecar, essa morrerá; o filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai levará a iniqüidade do filho. A justiça do justo ficará sobre ele e a impiedade do ímpio cairá sobre ele”.

Há um ditado popular que afirma que “filho de peixe, peixinho é”... Talvez, esse ditado tenha sim, grande valia quando se trata de hereditariedade no talento, como na música, profissão, etc. Mas em se tratando de fé e vida espiritual, nem sempre esse ditado se aplica, como no caso de alguns filhos de pastores que não se sentem vocacionados para o ministério pastoral, nem mesmo para serem o exemplo perfeito de quem convive em uma família de pastor.

É importante ressaltar que o púlpito não é legado de propriedade, pois a herança que o pai pastor deixa para o filho é uma vida honesta e íntegra diante de Deus! Não estamos questionando a educação que o pai pastor dá a seu filho, e sim, a experiência de fé, pois muitos filhos de pastores apenas reproduzem o que aprenderam; cantam, tocam e alguns até pregam, mas ainda há muitos deles que não sabem de fato quem é o verdadeiro Deus ou não tiveram sua própria experiência de conhecer verdadeiramente quem é Deus. E nesse caso é onde ocorre a “crise de identidade” que é constante a todo o momento, pois pela pressão de condições impostas por muitos de fazer isso ou aquilo, (sendo que em matéria de fé, é diferente) acaba sendo prejudicial, pois corre-se um grande risco de gerar pessoas que enganam a si mesmas. Acabam vestindo uma carapuça que não escolheram e sofrem com a cobrança para serem modelos de sucesso, só porque seus pais foram ou são. Necessita-se de muita cautela, pois há uma ligação que pode ser prejudicial, porque envolve fé, profissão e futuro!

Dentro dessa crise de identidade de que falamos, infelizmente percebe-se que muitos filhos de pastores não possuem vida própria, ou porque não dizer, são como a mãe ou a esposa do pastor, não tem nem nome, é apenas o filho ou a filha do pastor! E a conseqüência dessa cobrança é alguns dizerem que querem ser tudo na vida, menos pastor ou esposa de pastor, como já presenciamos e ouvimos.

O que na verdade faz com que muitos filhos de pastores se sintam assim, é justamente este excesso de cobrança, onde há uma pressão constante exigindo que eles sejam modelos no falar, agir, vestir... Na igreja tem que ser o mais santo, para o mundo deve ser o modelo padrão, na escola não pode tirar notas baixas, pois é vergonha filho de pastor com notas vermelhas. Tem que comportar na igreja, porque os membros estão observando tudo o que faz, enfim, tem que ser exemplo em tudo, pois todos estão de olho no que eles fazem! É claro que muitos olham com bons olhos, mas há outros que os observam para criticar, buscar defeitos e depois falar: ''Olha lá, que vergonha, o filho do pastor fazendo isso e aquilo!''

É obvio que ser filho de pastor requer uma postura de exemplo, claro que nem todos vêem assim e não se importam com as conseqüências de seus atos, o que é lamentável, pois tudo o que plantamos, vamos colher. Para tal postura deve haver um esforço, não porque A ou B esteja vendo, mas para agradar a Deus.

O problema é que se um filho de pastor não estiver engajado, se não cantar ou não fizer parte do ministério de louvor, então ele não é uma pessoa espiritual. E o mesmo acontece com a esposa do pastor. E o mais complicado nisso tudo é se acostumar a ter que demonstrar um determinado padrão de vida e de espiritualidade e que, muitas vezes, faz aquilo não para agradar a Deus, mas para agradar a vontade de homens.

Um filho de pastor, como todo ser humano, tem que ter verdadeiramente um encontro pessoal com Deus, ter a sua própria experiência! E nisso é importante o pai pastor dedicar tempo para a sua família e a mensagem de fé que é pregada na igreja, que seja também repetida dentro do lar, mostrando o maravilhoso plano de salvação, sem pressionar ou induzir o filho a ser o que ele não quer ser. E que esse pai seja em casa o mesmo pastor que é na igreja; que seja um pai presente, para que seu filho não tenha sentimentos de rivalidade com a igreja; para depois não ter que se queixar de que, se pudesse, começaria tudo novamente e de outra maneira.

Mas, afinal, o que verdadeiramente representa ser “filho de pastor”? Privilégio ou fardo? É claro que é um grande desafio, mas ao mesmo tempo um privilégio, pois é como se esse filho tivesse um médico dentro de casa... Como filho de pastor, terá explicações espirituais dentro do seu próprio lar!

Apesar de toda a turbulência da infância e da adolescência, quando esses filhos de pastor alcançarem a maturidade, na fase adulta, poderão entender que verdadeiramente ter nascido num lar cristão e sendo filhos de pastor, é um privilégio, pois essa influência de terem sido criados por homens de Deus os levará a serem apaixonados pelo Senhor e sedentos por cumprir o seu chamado em suas vidas.

E mesmo que muitos desses filhos não tenham tido, quem sabe, um bom pai/pastor, terão um modelo do que não ser para seus filhos. Mas o fato é que, todo filho de pastor tem um legado sobrenatural sobre sua vida e mesmo que tente se desviar ou fugir dele, haverá um momento em que sua vida vai ser direcionada para esse propósito.

Talvez você não venha a ser um pastor. Entretanto, poderá ser um bom auxiliar. Mas poderá também ser um grande pastor que mudará a história de uma geração! Afinal, foram gerados com um propósito!

*GISLAINE MENDONÇA PEREIRA GONÇALVES ministra em igrejas abordando temas ligados a família, missões e vida espiritual. É esposa do Pr. Waldir Gonçalves, Diretor da Missão Boas Novas do Ministério das Assembleias de Deus de Cel. Fabriciano e Ipatinga/MG